terça-feira, 19 de outubro de 2010

Difícil mudar

Voltei da Índia há exatamente duas semanas. Toda a experiência única e maravilhosa, a felicidade que vivi vai ficando um pouco para trás - a rotina, o passado, o hábito, tudo vai me puxando para voltar ao antigo, para voltar aos velhos hábitos.
Considero realmente que é muito difícil mudar. É difícil se manter num padrão mental mais elevado, ficar feliz o tempo todo, fazendo contato com um mundo maior. Mas deve haver uma motivação, um impulsor algo, que nos leve adiante. Como fazem as pessoas? Só mudam quando estão muito incomodadas ou sofrendo? O que nos leva a mudar?
Neste caso, o sofrimento, aquele que comentei antes e que me choca, pode servir para alguma coisa. Leva as pessoas a mudarem.
Mas não estou sofrendo e nem pretendo ser tão rígida a ponto de provocar algum sofrimento para justificar minha mudança.
Minha devoção, meu amor pela Amma é o que pode me levar a mudar. Amma é o meu motor propulsor, minha meta e meu modelo. Espelho-me nela para ser cada vez melhor.
Há alguns anos eu sofria muito porque não era perfeita. Olhava para a Amma e sofria porque via a dificuldade de chegar até lá.
Até que uma querida amiga me disse: "Os gurus estão aí para serem modelos e para serem considerados perfeitos, mas a própria condição dos humanos é a imperfeição. Este é o caminho dos humanos - quando deixam de ser imperfeitos não são mais humanos. Aceite sua imperfeição e agradeça a Deus por ter um modelo seu de perfeição (a Amma)!
Que presente, hein?
Mas o que eu quero mesmo mudar depois desta viagem? Quero manter um padrão mental, emocional mais alto. Ser mais feliz, acreditar mais que é possível e que as coisas são perfeitas como são.
De forma mais simples ser mais otimista, ficar menos na defensiva.
E vi o quanto meu padrão mental se transformou nestes últimos anos de sofrimento em negativo.
Aliás, lembrei agora que no curso de Bhagavad-gita e autoconhecimento que fiz no ashram reparei que eu nunca acreditava que os exercícios/atividades propostos eram possíveis. Eu nunca acreditava!
Vi o quanto deixei de acreditar, apenas pelas minhas vivências "tristes" que já estão tão longe!
E é assim - acreditar e vibrar em amor!
Um exercício para todos os dias da minha vida!

domingo, 17 de outubro de 2010

O sofrimento é realmente uma escolha?

Cá estou eu de volta às reflexões.  Escuto muito falar sobre escolhas e eu mesmo frequentemente digo isso - a vida é feita de escolhas. Quando penso em escolha penso sempre em ter duas opções, em ter uma espécie de controle advindo do conhecimento da situação, mesmo que seja um conhecimento relativo.
Mas agora estou falando de situações cuja escolha, se existir, não é clara, pelo menos para mim. Hoje fui com o pessoal da Amma entregar a refeição num leprosário do Rio. Esta é uma atividade voluntária pequena, que é uma gota de água num oceano, mas que tem muito impacto sobre todos os que participam e espero que também sobre os que recebem esta comida, feita com Ammor, há 3 anos ininterruptamente. São apenas 60 refeições, mas é o que fazemos atualmente em grupo.
Eu já havia ido algumas vezes no leprosário, mas sempre ficava muito deprimida e passava dias sem dormir. A situação extrema de abandono das pessoas das alas que visitamos me incomodava muito. Talvez porque naquela época eu mesma ainda me sentia "abandonada", "rejeitada" e "excluída". Há 1 ano me afastei do grupo e agora voltei com a proposta de ajudar na cozinha no sábado e também ir com o grupo do domingo entregar as refeições.
Chegamos lá e, para minha surpresa, o local está muito, muito melhor. Muito mais limpo, mais cuidado, com lençois limpos, com enfermeiros enfim, imediatamente pensei na Amma e achei que a repetição da presença dos filhos da Amma lá surtia algum efeito e senti que a Amma estava cuidando deles.
Depois, na ala psiquiátrica, encontramos outros grupos, evangélicos e espíritas, que vão lá todos os domingos para rezar com os doentes. Escutei também pessoas dos outros grupos dizendo que era a presença deles e a oração que faziam lá que estava surtindo efeito.
Imediatamente pensei que provavelmente ninguém sabe o que acontece e o motivo para que a situação geral do lugar esteja melhorando, e aí chegamos ao ponto do título.
Neste local há uma senhora de 93 anos, Da. Maria Junqueira, que é uma referência para mim e que tem uma história linda. Ela contraiu lepra aos 24 anos. Aos 26 anos, quando a filha única dela tinha 6 meses de idade, ela foi separada da filha e internada no leprosário.
Da Maria ao invés de se lamentar, começou a trabalhar e a ajudar as pessoas lá. Conseguiu até ser considerada como funcionária pública do estado, acumulando uma aposentadoria e seguiu sempre trabalhando.
Há 2 anos atrás ela mesma me contou que finalmente um dia havia se aposentado, o marido havia morrido e ela havia pensado que tinha chegado a hora de sair dali e talvez finalmente morar com a filha. Quando tomou esta decisão, foi chamada pelo diretor que pediu a ela para não abandonar os idosos e levou-a até o pavilhão deles, onde estavam abandonados até apodrecerem.
Da Maria esqueceu de seus sonhos e continuou ali, transformando, lutando, procurando fazer o melhor. Eu mesma a vi varrendo o chão algumas vezes, mesmo tendo ela apenas tocos de dedos da mão e praticamente não ter os pés.
Bem, hoje fui logo vê-la e encontrei-a sozinha na cama, dormindo e expressando muita dor. Chamei-a, mas ela não respondeu e logo depois chegou uma outra senhora e também a chamou, muito preocupada.
Da Maria finalmente levantou e foi comer, muito mais para fazer os outros felizes do que por ela mesma. Ela me contou que estava tendo dores alucinantes nos olhos e no corpo.
Fui perguntar depois para a enfermeira que me confirmou que Da Maria está com câncer e com metástase. Há pouco a fazer pois está na fase das dores!
Então, chegamos à pergunta do título:
"Será que as pessoas realmente escolhem ter uma vida assim tão dura? se escolhem, que benefícios terão? benefícios evolutivos excepcionais que só podem ser obtidos através do sofrimento?
Ou então, estarão essas pessoas apenas "pagando/queimando" carmas passados? Terão sido elas tão ruins ao ponto de novamente terem feito a escolha de ter uma encarnação tão sofrida?"
A evolução e a queima de carma só se dá através da dor?
São muitas as perguntas e os temas para refletir, mas não tenho, como sempre ainda a resposta.
Espero que o que escrevo aqui possa ajudar alguém.
Será que há outras pessoas que se fazem essas mesmas perguntas?
Será que rezar pode ajudar a liberar essas pessoas do sofrimento?
Ai, são muitas as perguntas!!!!
E o sofrimento, é mesmo uma escolha e é necessário?