sábado, 13 de outubro de 2012

Segundo dia

Segundo dia - a maior dificuldade é deixar o tempo passar passivamente.
Mas vamos falar antes das coisas boas. Há muita solidariedade no ar e isso compensa muita falha. Também, após a reclamação chorosa sobre a falta de limpeza, uau! Ontem o banheiro foi limpo três vezes, até ficar impecável para padrões indianos e hoje outra vez - limparam bem, muito bem para padrões indianos.
As noites são mais fáceis e eu durmo, e só estou tendo dificuldade com as formigas que aparecem na cama e ficam me mordendo. Como esta é uma zona rural, há de tudo! Mas hoje vou pedir limão e colocar no pé da cama. As formigas odeiam e somem rapidinho!
Conhecer a rotina facilita um pouco - eu já sabia hoje o que me esperava e pude controlar minha mente - levantar cedo, tomar banho, me vestir, esperar o ghee medicado, tomar pedindo a Deus para não vomitar e para que me faça muito bem, esperar o tempo passar.
Eu só posso comer quando sentir fome e vejo o quanto é preciso conhecer seu processo digestivo neste tratamento. Eu não sei dizer realmente se sinto fome, então, só comi ontem na hora do almoço.
Mas daqui a pouco direi que estou com fome e vou pedir comida - o khani - sopa de arroz com arroz.... Mas com sal é até bem gostoso.
Minha sorte é também gostar do chá que tomo aos litros...
Sinto um certo cansaço e gostaria de dormir, mas fico pensando nas recomendações e também depois quero ter a certeza de dormir à noite, então fico resistindo.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

E o panchakarma começou


Bem, finalmente comecei o panchakarma. Vim para o hospital ontem e vivi uma boa dificuldade. A qualidade dos quartos que me ofereceram é horrível, mesmo pagando uma fortuna (o preço atual de 1500 rúpias é bem caro para a Índia). O banheiro é simplesmente terrível e lá vou eu com minhas dificuldades. O pior é ver que há quartos muito melhores e vazios que eles continuam dizendo que estão reservados!!!
Bem, já vi que por aqui em ter dinheiro não resolve nada. E aproveito para olhar para dentro, para minha "frescura" e "mania" de limpeza, para a dificuldade em aceitar um tratamento que eu mesma escolhi.
Mas, sinceramente falando, entendo que este hospital carece enormemente de qualidade administrativa. É um prédio lindo, com boas instalações, mas falta a parte administrativa/governança de um hospital/clínica de tratamento, principalmente no sentido de manutenção e informação.
Não gosto de criticar as coisas da Amma, pois prefiro aceitar e entendo que há muito trabalho voluntário, mas falta também supervisão aos funcionários e, portanto, profissionalismo. Mas, entrei na dança, fiz o maior alarde e não quero desistir no primeiro dia.
Primeiro dia é realmente hoje. O tratamento inicial chama-se snehapana. O que é: administração oral de ghee medicado (ghee aquecido acrescido de medicamentos). A ideia, pelo que eu entendi, é ir aumentando a administração desse ghee que, após a digestão se distribui pelo corpo chegando até as partes intoxicadas. Quando meu corpo ficar "totalmente cheio" deste ghee, todas as toxinas serão levadas ao estômago, de onde serão retiradas por 2 dias inteiros de vômito. Depois há outros processos que desconheço, mas no total são 30 a 35 dias aqui!
Durante este tratamento que, no meu caso, vai durar 7 dias, a prioridade é ingerir este óleo e digerir. Alimentação mesmo só papa de arroz e água quente.
As ordens hospitalares: levantar às 6, tomar banh, e tomar o ghee antes das 7 da manhã. Ainda não consegui saber porque tão cedo, mas acredito que seja para tomar em jejum e também para poder digerir apropriadamente.
O chato é que há muitas restrições, inclusive a de não fazer nada e também de não dormir durante o dia. Num quarto escuro fica difícil, mas vou ficar mentalizando que sairei daqui muito mais saudável, muito mais magra, muito mais linda e muito mais preparada para a vida, que é meu desejo.
No mais, adorei todas as manifestações calorosas que recebi. Que bom. Pelo menos com o coração cheio de amor tudo fica mais fácil.
Enquanto eu escrevia a médica fofinha, Dr Deepthy veio fazer a ronda e eu reclamei muito do quarto etc... Ela voltou agora e me mostrou dois outros quartos com janelas e luz natural e sem ar condicionado, mas as paredes são tão mal cuidadas que eu preferi ficar mesmo no meu quarto rosa e escuro.
Pedi desculpas e até disse prá ela que entendo minha resistência, mas o critério indiano e brasileiro é muito, muito diferente.
Vamos em frente então....

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Há Ammas por todas as partes!

Primeiro preciso dizer que o conceito de dia da semana se esvai aqui no ashram. No começo achava estranho os residentes mais antigos terem dificuldade de lembrar o dia da semana, mas agora começo a entender, pois também tenho que parar e pensar que dia é hoje e é difícil para mim marcar coisas baseadas nos dias da semana. Finalmente, os dias da semana são apenas marcações humanas e provavelmente ligadas a rotinas e rituais e, como aqui a rotina e os rituais são completamente diferentes, é bastante normal que isso aconteça.
Esta introdução foi apenas para falar como me sinto depois de quase uma semana sem a presença física da Amma. Para os que já participaram de um programa completo da Amma, posso dizer, simbolicamente, que o ashram sem a presença física da Amma é como um dia de programa normal enquanto o ashram com a presença física da Amma é Devi Bhava o tempo todo.
Sinto a presença da Amma o tempo todo - isso é impressionante. Basta respirar conscientemente e lá está. Basta prestar atenção ao pé que toca o chão e lá está novamente. Entendo que isso seja até normal, já que o guru não está limitado à forma física e que o ashram é a extensão do corpo do guru.
Também aprecio muito o ar intimista que se forma - pouca gente, mais silêncio. Mas é claro que há para mim, como imagino para todos, aquele desejo da presença física mais forte de Devi!
Mas eu queria mesmo era falar que pessoalmente me perguntava como eu iria viver essa fase. Parte já falei, mas aconteceu uma coisa bem linda: agora, a cada vez que vejo as inúmeras bramacharinis pelo ashram, vejo pequenas Ammas... Vejo Amma em todo o lado... E isso é muito bom.
Há alguns dias tenho agradecido à Amma ter essas bramacharinis vestidas de branco para me fazer feliz...
E vou caminhando, passo a passo, para entender um pouquinho mais.

domingo, 7 de outubro de 2012

Abismos

Há certos abismos entre grupos no mesmo caminho espiritual que ainda considero intransponíveis... Amma, quando?