A vida é mesmo engraçada.
Quanto nossos olhos estão acostumados a certas visões e tendemos a achar
aquilo belo (ou feio). Explico - quando chego na Índia começo achando as
pessoas exóticas, me fascino com o colorido das roupas, a intensidade das cores
em todo lado. Depois de um tempo o meu "hábito visual" começa a me
fazer falta.
Aqui no Sul da Índia
todos, sem exceção, são morenos e, como há poucos estrangeiros, dá prá
imaginar. Todo mundo tem a mesma cor de cabelo. As únicas variações são nos
tons de grisalho e nos tons de branco dos cabelos.
O mesmo acontece com as roupas - as mulheres usam apenas e
tão somente dois tipos de roupa - punjabis (túnicas e calças) para as jovens e
solteiras e sári. É como usar uniforme todos os dias da sua vida - a única
coisa que muda é a cor, a textura, a riqueza (ou simplicidade) do tecido e dos
bordados. Depois comecei a entender que há também um estilo nas dobras, uma
categoria na qualidade do tecido.
A vegetação litorânea aqui é exuberante - mas sinto falta da
existência de uma gramado, um jardim planejado...
Acho muito engraçado isso, pois não sei como explicar.
Tenho muito desejo de usar (bem) um sári. Mas não sei se eu
aguentaria usar sári todos os dias da minha vida. Gosto de variar também -
gosto de usar um vestido longo, um jeans, uma saia... Enfim, me vejo diante de
uma das coisas que mais me amedronta na vida - o tédio!
Será que existe mesmo este tal de tédio visual? Como será
que um indiano olha a paisagem do Rio de Janeiro?